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Foto do escritorIniciativa Nordeste Rural Conectado

Conheça a comunidade remanescente de quilombo localizada em Afogados da Ingazeira, no Sertão do Pajeú


A BR-232 é a rodovia federal que interliga Pernambuco ao Brasil, através dela a nossa viagem inicia com destino à Afogados da Ingazeira, conhecida como Princesa do Pajeú. Distante 380 quilômetros da capital Recife, o município fica no Sertão do Pajeú; a região recebe o nome do rio que corta as cidades. 


Afogados é destaque por ser polo moveleiro, educacional e de saúde. Com mais de 37 mil habitantes, de acordo com estimativa do IBGE em 2017, recém completou 113 anos de emancipação e é a terra dos Tabaqueiros. São conhecidos personagens carnavalescos que utilizam máscaras, chocalhos e chicotes.


O município se destaca pelo acolhimento aos seus filhos naturais e adotivos, que fizeram desse lugar sua moradia. Mas a nossa parada final não é na área urbana, mas sim na zona rural. Dentre os diversos povoados da região, buscamos o Leitão da Carapuça, uma comunidade remanescente de quilombo.


Placa sinaliza as comunidades do entorno. Foto: Anderson Santana



Chegada à comunidade


Para chegar lá basta seguir pela estrada de terra da Queimada Grande, depois do bairro Manoela Valadares, 19 quilômetros adentro. Aos poucos, sem sinal de telefonia, conexão móvel de Internet ou qualquer facilidade tecnológica de deslocamento dos tempos atuais. A gentileza dos moradores é que nos guia, que se disponibilizam a explicar detalhadamente como chegar no Leitão. 


O período chuvoso, apesar de ser bem recebido pelos trabalhadores do campo, dificulta o acesso pelas estradas de terra, que se transformam em lamaçal escorregadio e cheio de buracos. Os poucos carros e motos que se aventuram têm muita dificuldade para se locomover. A tarefa não é fácil, mas a vontade de conhecer as histórias daquele povo é incentivadora.


O lamaçal dificulta o deslocamento de 19km. Foto: Anderson Santana



Finalmente avistamos um senhor sorridente no terraço da sua casa, conhecido no local como alpendre, que nos informa que chegamos ao início do Leitão. Uma pequena escola é quem recepciona os visitantes com o nome de Antônio Venerando, o espaço simples e acolhedor não está sendo utilizado nesse dia. 


Escola Antônio Venerando, localizada na entrada do Leitão, foi construída pela própria comunidade. Foto: Anderson Santana



Primeiros moradores da comunidade


Nosso anfitrião é Sebastião José da Silva, 54,  liderança local. Com muita hospitalidade ele apresenta a comunidade e explica que hoje, aproximadamente, 30 famílias moram no Leitão.


Sebastião José da Silva, líder da comunidade. Foto: Anderson Santana


“Nós viemos para a comunidade na época que eu estava com 3 anos de idade. Essas famílias que residem aqui vieram, a maior parte, do município de Custódia”, recorda.


Sebastião lembra que seus familiares desbravaram a área e iniciaram a habitação da comunidade: “foram duas famílias que vieram primeiro, a do meu pai – dos Venerando – e a família Gonçalo. Eles começaram plantando roça, depois rancho de palha de coco e casa de taipa. Iniciaram passando fins de semana por aqui e assim surgiu a comunidade”, destaca.


Características da comunidade


Em meio ao verde das árvores que envolvem a comunidade, repleta de natureza e tranquilidade,  avistamos tons azuis das casas de alvenaria. A casa azul, por exemplo, é o lar de Sebastião. No local também são realizadas reuniões periódicas da Associação de Moradores.


Devido à localização geográfica é preciso utilizar antenas parabólicas para ter o sinal de televisão.


Casa do anfitrião Sebastião José da Silva; no local também são realizadas as reuniões da Associação de Moradores. Foto: Anderson Santana



A maioria das casas possui cisterna para armazenamento da água da chuva. Desde 2013 a comunidade conta com dezenas de poços artesianos, água encanada e uma barragem construída pela Prefeitura de Afogados da Ingazeira para amenizar a escassez nos períodos de seca.


Foto: Anderson Santana


A eletricidade é importante bem de consumo para todos e chegou há mais tempo, é essencial nos dias atuais para proporcionar mais qualidade de vida para os moradores do Leitão.


Postes na comunidade. Foto: Anderson Santana


Entretanto a comunicação é um desafio, já que nenhuma operadora telefônica funciona no local, o que dificulta o contato externo. Para os moradores do Leitão se conectarem à Internet foi necessário instalar uma antena via satélite.


Moradores sempre buscaram melhorias


Antônio José da Silva, 70, é um dos mais antigos moradores, viu a comunidade surgir e crescer. Com saudosismo, ele destaca que não havia estradas e foi necessário o trabalho braçal dos primeiros habitantes para melhorar o acesso ao Leitão da Carapuça.


Antônio José da Silva participou desde o início da transformação da comunidade. Foto: Anderson Santana


“Tudo era difícil, aqui não tinha estrada, não tinha escola, não tinha nada. Só tinha o pessoal mais velho que morava e as estradas nós começamos a fazer. Chegou um ponto que a gente ia de pé até a Queimada Grande – comunidade a alguns quilômetros de distância – para tirar areia de lá até aqui. Não era por dinheiro, a gente fazia porque precisava, tinha aquela vontade de fazer!”, enfatiza.



Na próxima reportagem você vai conhecer mais sobre a história do reconhecimento da comunidade como remanescente de quilombo!


*Uma versão reduzida foi publicada no Jornal do Sertão de Pernambuco.


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